segunda-feira, 24 de março de 2008

Cultura

• Trabalho não-publicado - 01/10/2006 •

Otto de Alencar de Sá-Pereira

A Cultura só existe, onde haja o Ser Humano. O que Deus, pela natureza, cria e desenvolve não é cultura. Às vezes, é inspiradora de cultura, mas não é cultura. O reflexo na Terra, da luz do Sol rebatida pela Lua, é um fenômeno natural, portanto não é cultura. Só o é do ponto de vista científico, mas não por si só. Mas se esse reflexo for belo, nós o chamamos de “luar”, inspirador de cultura, como na “Sonata ao Luar”, de Beethoven, ou no ”Claire de Lune” de Debussy, ou mesmo nos musicais folclóricos”, “Au claire de la lune, mon ami Pierrot”, “prête moi ta plume, pour écrire un mot”, etc. ou em “O Luar do Sertão”, nordestino.
Uma montanha muito alta não passa de um amontoado de terra, de rochas, de minérios, de mato e árvores. Assim nos ensinam as ciências geológica e geográfica, que são Cultura Científica; mas não, o existir próprio da montanha que não constitui Cultura. Mas se essa montanha for mesmo dificilmente acessível, o homem cria outro tipo de cultura, que é o mito como nas religiões pagãs antigas: é o Olympo, residência dos deuses gregos; ou na Germânia o Wahalla, palácio de Wotan ou Odin, das Walkírias, dos Siegfrieds e das Siegliendes, etc.
Portanto, a Cultura, para existir, exige a presença do Ser Humano, criado por Deus, com corpo e alma. E à Sua Semelhança.
Como na Teologia, costuma-se usar o termo “União hipostática”, para as três Pessoas Divinas, Pai, Filho e Espírito Santo, de um só Deus: aqui também podemos imitar a Ciência de Deus, usando o termo União Hipostática, para a profunda essência do Ser Humano no Corpo e Espírito. União tão profunda que só se dissolve com a morte, e assim mesmo, temporariamente, pois sabemos, pela Fé, contida no “Credo”, que cremos na “ressurreição da carne” e na vida eterna”. Ou seja a reunião de nosso corpo e de nossa alma, na ressurreição, o que se chama de “Corpo Glorioso”, imune às leis da Física. Que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu exemplo do que seria (embora Seu Corpo Glorioso fosse infinitamente superior aos nossos, uma vez que além de homem, Ele é também Deus), pelo menos três vezes, que fiquem claras, na Sagrada Escritura: No Seu nascimento, para não ferir a Virgindade Imaculada de Sua Santíssima Mãe; na Transfiguração, onde diante de S. Pedro, S. João e S. Tiago Maior, Ele quis dar uma ligeira idéia de Sua Glória no Céu; na Ressurreição, onde Ele aparecia entre os apóstolos, mas não era só espírito, pois sentava-se com eles e comia e bebia. E finalmente na gloriosa Ascensão aos Céus. Talvez, Ele se tenha utilizado de Seu Corpo Glorioso, em outras ocasiões de sua vida terrena, ocasiões, que não ficam muito claras, na Sagrada Escritura, como por exemplo, cercado por uma multidão hostil, mais de uma vez, sumiu entre eles; ou ainda quando os esbirros dos sacerdotes judeus vieram prendê-Lo, no Monte das Oliveiras, e no primeiro contato com Ele, caíram todos por terra. Só em seguida, Ele voltou à sua humanidade, permitindo que O prendessem, pois assim era necessário para a Redenção da humanidade.
É evidente, que nosso corpo glorioso, de simples “seres humanos”, não é comparável ao de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas serve para termos uma idéia dessa “União Hipostática”, entre nosso corpo e nossa alma, que é tão profunda que só termina com a morte; e depois vence a morte mas, só a vence, pelos merecimentos que recebemos da Paixão e Morte de Nosso Senhor. Mas enfim, temos essa essência do ser humano, que chamamos de “União Hipostática” e graças a ela o homem foi capaz de realizar Cultura, no processo histórico e civilizatório, também por ele edificado, no curso de sua existência.
Expliquemos melhor: quando abordamos o “luar” e a “montanha”, vistos como “Cultura”, pelo aspecto artístico e mítico, que os homens os deram, e dissemos que a montanha e o luar, por si só, não constituem Cultura, pois na verdade eram realizações da Natureza e portanto de Deus, é preciso não esquecer que o ser humano também fez cultura quando soube explicar o que era cientificamente o Luar e a montanha. Isso porque Cultura não é só arte, mas também ciência e tudo o mais que seja criado e produzido pelo homem. Como na União Hipostática temos o conjunto de corpo e espírito, e como o espírito se manifesta por suas três potências: a Razão (racionalidade ou inteligência), a Sensibilidade e a Vontade, acontece que, às vezes, é a Razão que predomina sobre a Sensibilidade e a Vontade, e aí temos com mais facilidade os descobrimentos científicos; mas às vezes, é a Sensibilidade que predomina sobre a Razão e a Vontade, e aí temos as manifestações artísticas. A União Hipostática do Ser Humano é portanto essa união fortíssima entre o corpo e o espírito. Tão forte que marcas de beleza ou de deficiências do espírito, podem se refletir no corpo e vice-versa. No que diz respeito ao corpo, pelas características orgânicas e anatômicas do Ser Humano, aqui, agora, só nos interessa nisso em que ele pode ser alterado por virtudes ou vícios do espírito e quando declaramos que todas as ciências ligadas ao corpo, como a medicina, a biologia, a zoologia, a botânica, a mineralogia, ( o corpo humano tem elementos vegetais e minerais), etc. são também Cultura, pois foram segredos da natureza, descobertos pelo homem.
Em outras palavras, tudo o que o homem criou ou descobriu na natureza utilizando-se de sua Racionalidade, de sua Sensibilidade e de sua Vontade, ou seja, das potências de seu espírito, tudo é Cultura. Desde os rabiscos das cavernas, da Idade da Pedra, até a arte de um Leonardo da Vinci, de um Miguel Ângelo ou de um Fra Angélico, constituem Cultura. Desde a primeira pedra polida da Pré-História, sendo utilizada como instrumento, até aos fantásticos computadores atuais. Desde o sopro da flauta de Pan, até uma sinfonia de Mozart ou uma cantata de Bach ou Haendel.
Desde a embarcação fluvial construída com troncos de árvores, até aos submarinos nucleares ou naves espaciais. Desde os primeiros fonemas pronunciados, balbuciados, ou desde os primeiras rabiscos talhados que possuem algum significado literário, pelo homem primitivo, até as obras de um Homero, de um Virgílio, de um Dante, de um Racine, ou Shakesperare, de um Cervantes, ou Camões, tudo é Cultura.
Desde o tronco de árvore neolítico, feito para se assentar, até ao Trono da Rainha da Inglaterra ou as poltronas confortabilíssimas da Idade Atual Contemporânea, tudo é Cultura. O que o homem realizou, utilizando-se de suas potências, que não tenha vindo de Deus, ou da natureza, repetimos, é Cultura.
A Sociologia tem uma definição de Cultura, que é bastante boa, quase atingindo a perfeição: “Cultura é a criação, o crescimento, o desenvolvimento, o aperfeiçoamento e a sofisticação de elementos que contribuam para as necessidades básicas do homem”
Por essa definição, podemos ver que, certamente em função de sua natureza e também em conseqüência do pecado original, o homem quis crescer, quis melhorar, quis progredir, mas não por amor ao Bem, ao Belo, ao Bom, ao Certo ou à Verdade, mas sim a suas necessidades básicas, por interesse próprio. Tudo o que ele fez, o fez pensando em si próprio. É um egocentrismo congênito, que só não o possuem os Santos ou aqueles que seguem à risca os Mandamentos de Deus, as palavras de Jesus ou aos ditames da Igreja. Como esses são minoria, a maior parte da humanidade fez Cultura, construiu a Civilização e edificou a História, pensando em suas necessidades básicas. Chamamos isso, até, de comportamento natural.
Mas, que necessidade básica teria um Vivaldi, ao compor sua magnifica obra sinfônica? Uma necessidade congênita herdade dos músicos anteriores, que, por sua vez, tinham recebido de outros mais antigos, da Idade Média, e esses certamente da Idade Antiga. E os da Idade Antiga, aos primeiros músicos, os proto-músicos da Pré-história que sentiam a necessidade básica de imitar ao suave cantar dos pássaros, daí a flauta de Pan; ou imitar o trovejar das tempestades, daí os primeiros instrumentos de percussão. Mas isso é mal? Não, não é mal, por isso chamamos de natural. É bom, mas não é perfeito, por causa do pecado original. Seria perfeito se o proto-músico pré-histórico e seus seguintes, quisessem fazer música pela música, por algo que ele sentisse que tratava-se de uma virtude de Deus; e não por espírito de imitação;. Mas infelizmente, a natureza humana é assim. No campo material se faz sentir ainda com mais vigor. A alimentação é, evidentemente, a necessidade mais básica do homem. Sem comida, ele morre. Como o homem é especialmente carnívoro, ele caça para comer, mas também coleta ou colhe das florestas e plantações o seu fruto, legumes, raiz ou o seu trigo. Mas o faz por interesse próprio. Novamente nos perguntamos: é natural? Sim, é natural, mas não é perfeito. E a Sagrada Escritura nos dá uma lição, logo no primeiro Livro do Antigo Testamento: No “Gêneses”.
Por que Caim matou Abel? Por ciúmes. As ofertas das gorduras animais que Abel fazia a Deus como pastor eram mais bem recebidos pelo Senhor, do que as ofertas vegetais de Caim. Como coletor agrícola. E por que? Porque Caim guardava para si os melhores produtos agrícolas e oferecia a Deus, o refugo. Abel fazia o contrário. A fumaça do altar de Abel subia aos céus, o de Caim se dispersava.
A palavra de Deus não se discute. Terá sido assim, ou foi uma lição que o próprio Deus quis nos dar para mostrar-nos que nossas primeiras necessidades básicas, sejam materiais, espirituais, intelectuais ou práticas devem ser dirigidas a Ele, e só depois a nós mesmos?
O fato é que essas necessidades básicas dirigidas por um pendor, mais perfeito, ou não, foram elaboradas pelas Potências do Espírito Humano, pela Racionalidade, pela Sensibilidade e pela Vontade. Abordemos, um pouco, essas potências do espírito humano, para que possamos entendê-las melhor:
A Razão ou Racionalidade
A Racionalidade ou Razão, confunde-se, às vezes com a Inteligência. Mas, elas não são a mesma coisa. A Razão supõe anteriormente a Inteligência, embora ela seja mais importante. A Inteligência originou-se do verbo latino “intelligere”, que significa captar. A Inteligência capta as idéias, as impressões, etc, mas não as combina., Quem as combina é a Racionalidade. Como na Física: temos a força A, a força B, a força C, independentes. De repente essas forças se chocam. Esse chocar de forças resulta em uma outra força, que é chamada, pela Física, de “Resultante”. Assim, as idéias ou impressões, captadas pela Inteligência, ao se chocarem, não resultariam em nada (como nos irracionais), se não houvesse a Racionalidade. Essa Potência Racional aproveita esse choque, e dele, tira conclusões que são as resultantes, ou sejam os Raciocínios. Esses só existem graças à Racionalidades e não graças à Inteligência. Por isso, o ser humano é chamado de “animal racional”.

Sensibilidade
É a potência dos sentimentos, dos sentidos, da sensualidade, etc. É portanto bastante abrangente: é um leque aberto que parte dos simples sentidos, visão, audição, tato, paladar, etc. E chega, em uma ação ascendente, bastante escalonada, aos mais altos sentimentos: de amor, de caridade, de desprendimento, de amor ao próximo e de amor a Deus. (O eros e o ágape expostos por Bento XVI em sua encíclica, “Deus caritas est”). É na Sensibilidade que se encontra o que há de mais sublime no Ser Humano: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Contido no 1º Mandamento da Lei de Deus, do “Livro do Gênesis”, no Antigo Testamento. Ou de igual grandeza e importância, contido no Novo Testamento, pela Palavra de Jesus Nosso Senhor no Evangelho: Não há maior amor do que aquele que dá a vida pelo irmão”. Sim, porque aquele que dá a vida pelo irmão, é movido por um amor tão grande, que só pode ser o Amor a Deus ou a um valor que seja de Deus. Como diz S. Thomas de Aquino: “Aquele que ama a um valor mais alto, mais que a si próprio, adquiriu o estado de graça, semelhante ao do Batismo, pois esse valor mais alto só pode ser Deus, ou alguma Virtude Divina”. Em outras palavras: se um músico ama a Música mais do que a si próprio, ao ponto de dar sua vida pela música, na realidade, ele ama a Deus mais do que a si próprio, pois essa música que ele ama é uma das virtudes do próprio Deus. Entretanto, a Sensibilidade pode também se fazer sentir, por sensações de baixa escala, ligadas geralmente ao sexo promíscuo, o eros mal entendido. Por isso, a Sensibilidade necessita ser dirigida pela Racionalidade. Assunto que será estudado no ponto referente ao “Equilíbrio das Potências do Espírito”. (Esse amor, seja sublime ou não, é magnificamente explicado, com os nomes de “ágape ou eros” na Encíclica “Deus Caritas est”, do Santo Padre Bento XVI).
A Vontade
É a Potência da Liberdade humana, do Livre Arbítrio, na qual o ser humano escolhe. Escolhe entre uma coisa ou outra. Escolhe entre ir ou vir; entre entrar ou sair; entre subir ou descer; entre amar ou odiar; entre estudar ou vagabundear; entre “ser” ou “não ser”, “to be or not to be”. Enfim, escolhe entre o bem ou o mal, entre o Céu ou o Inferno.
É a Potência do Alvidrio, da Liberdade, dada ao homem por Deus, durante toda a sua vida, para ele se decidir. Deus não o abandona, concede graças mas depende do homem saber aceitar e aproveitar essas graças. Como diz S. Paulo: “Tenho medo do Cristo que passa e não mais volta”.
Essas três Potências do Espírito, Razão, Sensibilidade e Vontade, como já dissemos, vão ser os elementos dinâmicos da Cultura, da Civilização, da História. Se bem equilibradas e atentas às graças de Deus, realizarão sublimidades. Se mal equilibradas, desatentas à própria existência de Deus, permitirão horrores, guerras, genocídios, estupros, monstruosidades, etc...
Entretanto, antes de estudarmos esses equilibrios ou desequilíbrios das Potências do Espírito, lembremos que essas Potências do Espírito unidas ao Corpo Humano designamos de “União Hipostática”, a Essência do Ser Humano.
Por que esse nome? Sabemos que “hippo” é cavalo, em grego. Daí o hipódromo, lugar onde os cavalos correm. O “hippo” ligado ao “stat” do verbo “stare”, latino, que significa “estar sobre”( daí o “stand” da língua inglesa), resultou a palavra “Hipostatica”, ou “estar sobre o cavalo”. É um termo medieval. Na Idade Média, “ o cavaleiro andante”, “o cavaleiro feudal”, usava uma tal parafernália de armaduras de ferro: elmo, para a cabeça, a couraça, para o tronco, as perneiras, para as pernas, e ainda as armas etc... que isto tudo junto, representava enorme peso. Considerando-se que o cavalo, de raça “percheron”, gigantesco, também se cobria com uma malha de ferro, o peso tornava-se tão grande que um cavaleiro sozinho não conseguia montar em seu corcel. Precisava do auxílio de um ou dois escudeiros ou “valets”, para realizar a façanha. Uma vez, montado, ou melhor, encaixado na sela, tornava-se uma potência militar, o tanque da Idade Média, só comparável a outro cavaleiro de semelhante postura. A União Hipostática entre cavaleiro e cavalo era inseparável. Quando, de lança em riste, os dois cavaleiros se chocavam, era a explosão atômica medieval. Se um dos dois caísse, não estava só derrotado, mas praticamente morto, pois, mesmo que não morresse da queda, seu adversário aproximava-se dele, que estatelado no chão, não se mexia, por causa da queda e também pelo peso da armadura, e terminava seu trabalho, enfiando-lhe a lança, geralmente no pescoço, parte do corpo que ficava desnuda, para facilitar o movimento da cabeça.
Assim a União Hipostática do cavaleiro e do cavalo, representavam algo quase compacto, impossível de se desunir.
Por essa razão, a Teologia e a Filosofia Medievais, pediram emprestado, aos costumes da época essa palavra, para indicar a indissolubilidade quase perpétua entre corpo e espírito. O corpo, com suas características anatômicas e orgânicas humanas; e o espírito com suas importantes Potências: A Racionalidade, a Sensibilidade, e a Vontade. O equilíbrio, antes mencionado, dessas Potências, é o fator principal da dinâmica que elabora a Cultura Positiva. Porque pode haver também Cultura Negativa. A Cultura é positiva quando traz o bem à Humanidade. Ela é negativa quando proporciona o mal. E ela é negativa, quando é produto dos desequilíbrios das Potências mencionadas.
Vejamos, agora, como se dá o equilíbrio e como acontecem os desequilíbrios. É preciso que entendamos, que os termos, por nós aqui usados, ao explicarmos o equilíbrio e os desequilíbrios, são simples, pois são para a compreensão de jovens alunos, pois este artigo, só tem pretenções de simples apostilha universitária. Dito isso: então vejamos: O Equilíbrio representa a comunhão entre a Razão e a Sensibilidade. Seria como se a Razão aconselhasse a Sensibilidade e essa ponderasse sobre a Razão. Dessa comunhão haveria algo de tão bom, que a Vontade, inebriada de prazer, aderisse inteiramente e realizasse o ato. E assim o Bem se produziria e atrás desse Bem, toda uma Cultura Positiva.
Entretanto, existem os desequilíbrios. – O primeiro tipo: seria a Razão influenciar a Vontade, quase anulando a Sensibilidade. Exemplo: Um Pai de Família que implantasse em sua família uma disciplina rigidíssima, onde não houvesse perdão nem complacência e portanto não houvesse amor, para nenhuma atitude abusiva ou discordante de um filho. Se nós dermos uma dimensão maior para esse Chefe de família, teremos um ditador nazista, fascista ou comunista, com uma cauda de atitudes de Cultura Negativa. Assim como o Chefe de Família teria usado de suas idéias perversas, racionalidade fria, sem nenhum tempero de boa vontade ou de amor, assim também os ditadores fascistas, nazistas ou comunistas, usariam de racionalidade maligna, como por exemplo, a superioridade de uma raça, com exclusão das outras, do direito de existência. Como o horror do holocausto dos judeus, praticado pelos nazistas. No comunismo, também. Embora tenha nascido de “pseudos equilíbrios” entre “capital e trabalho” sabemos que partiu de uma reação forte contra outro desequilíbrio, que consistia no capitalismo ateu inicial, onde também nãos se levava em consideração as necessidades dos mais pobres e operários (ausência de sensibilidade). Esse capitalismo causa a reação chamada socialismo e comunismo, com revoluções, atitudes violentas (tanto dos revolucionários socialistas quanto dos patrões e entidades estatais capitalistas) e até guerras, deportações, fuzilamentos, etc. Desequilíbrios, onde uma razão dominante exclue qualquer sentimento de solidariedade, de amor, de caridade. Onde a razão dominante cria doutrinas que não levam em consideração a alma, a caridade, o amor, os direitos humanos, mas somente uma pseudo justiça, fria e implacável. Os comunistas também usavam seus campos de concentração, na Sibéria, para os não comunistas.
O Segundo Desequilíbrio seria aquele no qual a Sensibilidade, uma Sensibilidade Mal Orientada, comandasse a Vontade, anulando praticamente a Razão. No campo do convívio social comum, do povo simples, podemos supor uma Mãe de Família, viúva pobre, que tem que se desdobrar para sustentar a família. Um coração enorme, de mãe extremosa, mas uma quase total ausência de racionalidade e cultura, para educar a filharada. Sem a orientação racional, com uma religiosidade confusa, onde só de destacam os sentimentos, a Mãe de Família, passa a mão na cabeça de seus filhos, principalmente dos homens, permitindo, sem querer, que os meninos tornem-se moleques, que os moleques venham a ser pivetes e esses, por sua vez, marginais. Quando o filho marginal vem a se tornar assassino, aí a Mãe acorda! Onde errei?! Desde a primeira traquinagem, não corrigida, como matar um passarinho com estilingue, e muitos outros pecadilhos, passados em brancas nuvens. Dir-se-ia que a culpa é do Estado. Claro que é. Mas foi o Estado, justamente, que movido politicamente, pela mesma forma de desequilíbrio, o autor dessa massa humana, pobre, desabrigada, inculta, irracional, onde só a sensibilidade atua, principalmente a má sensibilidade que movendo as paixões mais baixas do ser humano, proporciona crimes e pecados geralmente ligados a drogas, à perversão sexual e ao sexo promíscuo. Expliquemos melhor a culpa do Estado, do Governo, nesses assuntos. O Estado foi movido também por essas formas de desequilíbrios? Sim, a Sensibilidade anulando a Razão, e portanto a ética, o pudor de bem governar anulando a honestidade e proporcionando a corrupção descabida que constatamos hoje (e não só de hoje) entre os governantes, particularmente do nosso Brasil. Mas que Sensibilidade é essa que causa tanto mal? Quando, linhas acima, abordamos a Sensibilidade, mostramos que ela é muito abrangente, como um leque aberto, que parte dos simples sentidos e por uma escala ascendente, alcança os mais altos e sublimes sentimentos.
Entretanto quando há essa forma de desequilíbrio, onde a Sensibilidade anula a Razão, essa Sensibilidade pode ser do tipo baixo dos sentidos e do sexo descabido, ou o desequilíbrio da boa Sensibilidade, que abordaremos, em seguida. No primeiro caso, que estávamos tratando, antes um Governo que se permita ser orientado por uma má Sensibilidade, anulando o que é racional é aquele Governo onde a sensualidade desorientada, o orgulho e a vaidade, e a paixão irregular pelo poder, e a ambição pelo enriquecimento ilícito predominam. Mas, dir-se-á, esses são pecados e crimes! Sim, é verdade, mas, todos pecados e todos crimes são movidos pela Sensibilidade desregrada.
A Sensibilidade boa que também pode sofrer um processo de desequilíbrio, não orientado pela Razão, é caso raro, mas pode acontecer. Às vezes ocorre entre os Santos. Alguns Santos quando são movidos por um amor a Deus desmedido (Sensibilidade sublime), às vezes, cometem ações não orientadas pela Razão. S. Francisco de Assis, logo no início de seu processo de santificação, quando foi tocado pela graça de Deus, ainda jovem, não entendeu bem o espírito de pobreza evangélica, e, como um louco santo passou a distribuir, entre os pobres, os bens de seu pai, não tomando em consideração o 7º mandamentos da Lei de Deus (não furtarás), pois ele furtava do pai para distribuir entre os pobres, seus dinheiros e mercadorias; pois seu pai era negociante rico. Estaria S. Francisco pecando contra o 7º mandamento? Certamente que não! Ele foi só vítima de um Amor tão grande, tão grande, a Deus que desequilibrou as potências do Espírito, fazendo o amor enorme, tornar-se irracional. É claro que o amadurecimento de seu processo de santificação, corrigiu em tempo, esses desequilíbrios. Foi um desequilíbrio, onde o gigantesco Amor e Sensibilidade não consideraram a Racionalidade. Esse desequilíbrio inicial logo tornou-se equilíbrio, e S. Francisco conseguiu do Papa Inocêncio III a criação de sua Ordem que tinha como uma das principais características a pobreza, e por isso a Ordem Franciscana é até hoje conhecida como Ordem dos Padres Menores. A Ordem dos Frades Menores e todas suas realizações, no Mundo inteiro, durante esses oitocentos anos de sua existência, foi fruto do equilíbrio das potências do Espírito, visando o apostolado e a santificação. É portanto uma fantástica obra de Cultura, aqui no caso, particularmente, Cultura Religiosa. Mas não só Cultura Religiosa. Veja-se a Cultura Artística, na música, na literatura, na arquitetura (os magníficos conventos: no Rio, temos um exemplo fantástico no Convento de Stº Antônio, localizado no Largo da Carioca). - Quando definimos o Equilíbrio das Potências do Espírito e dissemos, em linguagem simples, que a Razão orientaria a Sensibilidade, que essa ponderaria sobre a Razão e que se processaria uma comunhão das duas potências, tão boa, tão agradável, que a Vontade inebriada, aderiria e realizaria o ato quizemos mostrar que esse ato seria excelente e produziria Cultura Positiva.
Andamos, depois dessa definição, abordando os desequilíbrios, com suas Culturas Negativas, chegamos a ver uma exceção curiosa, que teria sido o desequilíbrio santo da juventude de S. Francisco de Assis. Mas voltamos ao Equilíbrio, e sublinhamos a Cultura Religiosa da Ordem dos Frades Menores.
Devemos entretanto, considerar que, na Cultura/religiosa, evidentemente não se salientou só a Ordem Franciscana, e sim toda a Igreja, tanto no Clero Regular (Ordens Religiosas) quanto na clero Secular (os Padres Diocesanos).
E devemos também considerar, que o Equilíbrio das Potências do Espírito, no criar Cultura Positiva, não se limitou à Cultura Religiosa, embora essa seja a mais importante, já que a alma é superior ao corpo (como nos ensinou Leão XIII, em sua encíclica “Immortale Dei” e muitos dos seus predecessores, como S. Gregório VII, Inocêncio III, Beato Pio IX e quase todos os Papas) quando mostram a superioridade da Igreja sobre o Estado).
Temos também muitas outras formas de Culturas, como por exemplo a Cultura Teológica, Filosófica, a Política, a Social, a Cultura Científica, a Artística, a Folclórica, a Histórica, a Geográfica, etc... Mais modernamente a Cultura Informática e tantas outras. Todas elas Culturas Positivas, se não permitirem algum desequilíbrio das Potência.
A CULTURA DA IGREJA
O Principal exemplo, em toda a História da Humanidade, de Cultura Positiva, é a Santa Igreja, fundada pelo próprio Verbo de Deus encarnado, a 2ª Pessoa da Santíssima Trindade , o Filho , o Messias, o Redentor. Nosso Senhor Jesus Cristo, na pessoa de Pedro. – “ Pedro tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” – “Dou-te as chaves do Reino dos Céus, os pecados que aqui perdoardes, lá serão perdoados, os que aqui retiverdes, lá serão retidos” – “O que dizem quem Eu sou? – responderam os Apóstolos: uns dizem que sois João Baptista ressuscitado, outros dizem que sois Elias, e ainda outros, que sois Isaias ressuscitado. E vós, que dizeis? Respondeu-Lhe Pedro: Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo! Bendito sejas tu Pedro filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te inspiraram, mas o próprio Espírito Santo, e, portanto te digo Pedro tu és pedra... (etc como está em cima)” – “Pedro, tu me amas? – Vós o sabeis, Senhor, que Vos amo. Apascenta as minhas ovelhas. Pedro, tu me amas? – Já Vos disse Senhor, eu vos amo enormemente . Apascenta as minhas ovelhas. Pedro, Tu me amas? Senhor, Vós duvidais? Eu Vos amo acima de tudo! – Apascenta as minhas ovelhas”. (Por que três vezes? A pergunta seria proposta pelas Três Pessoas da Santíssima Trindade?) Estas frases, encontradas nos Evangelho, e ditas por Nosso Senhor, fundaram a Igreja, confirmada depois no Sacrifício da Cruz, e finalmente no Pentecostes.
Depois, foi a difusão da Doutrina, pelos Apóstolos, a escolha de Roma como centro da Cristandade, por S. Pedro e S. Paulo, onde morreu um, crucificado, de cabeça para baixo e o outro, decapitado. O crescimento da Igreja pelo mundo todo, nesses 2000 anos de Sua existência, difundindo a Palavra de Deus, o Caminho, a Verdade e a Vida, desenvolvendo a Caridade, a Fé e a Esperança. A Esperança, principalmente no Reino de Deus (que é o pedido no Pai-nosso “venha a nós o Vosso Reino”) que é o mesmo Reino de Maria (anunciado por Nossa Senhora aos videntes de Fátima: “No fim o Meu Imaculado Coração triunfará”). A Santa Igreja espalhou por todo o orbe, não só a Religião de Jesus Cristo, mas seus corolários, que constituíram os aspectos mais brilhantes de todos os aspectos de Cultura: a Filosofia e Teologia de São Thomaz de Aquino e seu seguidores as catedrais, e castelos góticos, outros estilos arquitetônicos, como o romanesco, o clássico, o barroco, etc. O canto Gregoriano os grandes poetas e músicos e artistas plásticos, cristãos, como um Dante, um Camões, um Shakespeare, um Corneille, um Bach, um Haendell, um Mozart, um Vivaldi, um Leonardo da Vinci, um Fra Angélico, um Miguel Ângelo, um Rafael, um Caravaggio, um Tiziano, etc, etc. para só citarmos os maiores. Não nos esquecendo da vida espiritual, vivida, ensinada e praticada pelos Gigantes da Igreja, que foram seus Santos: S. Pedro e S. Paulo e os Apostólos, Stº Estevão Martir, um Stº Atanásio, um S. Basílio, um Stº Agostinho, um São Boaventura, uma Stª Mônica, Santa Inez, Santa Rita de Cássia, um S. Francisco de Assis, um Stº Antonio. Reis Santos, como um S. Luiz IX de França, S. Fernando III de Castela, S. Leopoldo de Áustria, Stº Eduardo da Inglaterra, Stº Henrique da Alemanha, Stº Estêvão da Hungria, S. Wenceslau da Bohêmia, S. Casimiro da Polônia. Os grandes fundadores de Ordens. Além de S. Francisco com os Padres-menores, os Beneditinos de S. Bento, os Dominicanos de S. Domingos, os Agostinianos, um Stº Ambrósio, um Stº Alberto Magno, o Grande S. Thomaz de Aquino, uma Santa Filomena, S. Cosme e S . Damião, Stª Thereza d’Ávila, um Stº Ignácio de Loyola, S. Francisco Xavier, S. Luiz Gonzaga, Stº Stanislau Kotska, Stº Expedito, S. Gonçalo Garcia, S. Paulo Miki e os Martires do Japão, S. João Bosco, S. Francisco de Salles, Stº Affonso de Ligorio, Stª Bernadette Soubirou, S. Pio V, S. Luiz Maria Grignon de Montfort e muitos outros, centenas milhares ou milhões, canonizados ou não, que espalharam a cultura religiosa católica, nos cinco continentes, mudando o mundo pagão, em mundo cristão.
Contudo, outra Cultura, que aqui deve ser desenvolvida é a Sócio-Política. Sim, porque aquele mesmo Ser Humano, essência da União Hipostática do corpo e espírito, com suas Potências, já fartamente citadas aqui, Racionalidade, Sensibilidade e Vontade, esse Ser Humano, foi também definido, tanto por Platão, como por Aristóteles, como “Animal Político”. Por que “Animal Político”? Porque faz política? Sim, mas antes disso, porque vive na “polis”, (cidade ou sociedade). Essa “polis”, organizada, vem a constituir o âmago, da Cidade organizada por leis e governantes, a origem das Nações e dos Estados. É ai que o “animal político” passa a fazer política (onde deve existir também e especialmente, o equilíbrio das Potências do Espírito). Para entendermos esse “animal político”, temos que, mais uma vez, voltarmos ao Ser Humano aqui visto como “Pessoa ou Indivíduo”. Em linguagem corrente, pessoa ou indivíduo se identificam. Mas, mesmo nessas ocasiões, digamos populares, quando alguém é apontado como uma Pessoa, essa indicação é elogiosa. Quando entretanto, é chamado de “indivíduo”, apresenta-se aqui logo algo de pejorativo. Qual seria a diferença entre indivíduo e pessoa? Para começar, chocando o leitor, podemos afirmar, que o indivíduo não existe. Então, para que estudá-lo? O que seria o indivíduo? – O indivíduo seria o Ser Humano, observado só por suas características endógenas (hereditárias e de dons gratuitos), sem nenhuma influência externa, de fora dele. O que evidentemente é impossível! Seria, como que um Ser Humano criado em proveta e guardado em redoma. Seria quase como um “robot”. É importante estudá-lo, pois o seu coletivo, constituiria a Massa. O Santo Padre Pio XII tem um interessantíssimo pronunciamento , se não nos enganamos, à imprensa, em que ele distingue a diferença entre “Povo e Massa”. O pronunciamento do Papa foi muito importante, porque em sua época, vários ditadores de direita ou de esquerda, transformavam o Povo em Massa – Como o indivíduo não existe, a Massa também não existe, ou melhor, só existe pela força bruta ou pela lavagem cerebral. A Massa seria um conjunto de homens-robots que, virariam para a direita ou para a esquerda, olhariam para a frente ou para o lado, pensariam dessa ou daquela maneira, a partir de uma ordem do ditador ou de se acionar um botão. O povo russo, quando findou-se a União Soviética, ficou num estado tal de euforia que tudo o que havia no Capitalismo Ocidental entrou em rebordose na Rússia. Tudo o que havia de bom, mas infelizmente, também tudo o que havia de mal. Foi um verdadeiro carnaval de liberdades e de libertinagens, que, em certo ponto, ainda existe até hoje. A massa voltou a ser Povo, os indivíduos voltaram a ser Pessoas.
Então, o que será a Pessoa? Esta, é o Ser Humano verdadeiro, composto não só de categorias endógenas (hereditárias e dons gratuitos)_ mas também e principalmente de categorias ou influências exógenas, de fora deles, de caráter físico ou social. Ou seja, a Pessoa Humana, em sua formação, constitue-se de sua herança genética (endógena), de seus dons gratuitos (também endógenos, como por exemplo, certas vocações especiais. Beethoven nasceu em uma família de funcionários públicos, sem a menor tendência para a música, ele entretanto recebeu, de Deus, esse dom gratuito, que, evidentemente pôde desenvolver, porque nasceu em Bonn e educou-se em Viena. Se ele tivesse nascido no Congo, do século XIX, e recebesse o mesmo dom gratuito, não teria composto, é lógico, toda a sua fantástica obra sinfônica de concertos e sinfonias e sua obra pianística de sonatas, etc, mas, com toda a certeza comporia batuques e outros ritmos africanos, com genialidade), mas constituem-se também de suas influências exógenas. Como já dissemos, estas influências podem ser de caráter social ou físico Caráter Social: um Ser Humano, nascido no Brasil, pela influência da sociedade, vai falar a língua portuguesa, vai gostar de futebol, vai gostar de carnaval, vai ser cristão (talvez não católico, como seria se tivesse nascido antes da II Guerra Mundial), vai ter características de bondade, de ingenuidade, de convivência agradável, não será ambicioso, etc (evidentemente estamos enumerando a grande maioria do povo, embora haja exceções). Nestas influências, naturalmente, há variações, riquíssimas de modalidades que esse Brasil continental apresenta no povo brasileiro, sotaques diversos, desde o gaúcho, ao paulista, desde o carioca ao baiano, desde ao pernambucano ou maranhense, etc... Têm sotaques diferentes, alguns hábitos e costumes bem diferenciados, culinárias de gostos diversos, etc, etc... mas, todos falam o português, gostam de futebol e carnaval e são cristãos.
Caráter Físico – embora pareça estranho, o meio ambiente físico, contribue também muitíssimo, na formação da Pessoa. Quem nasce em região montanhosa tem características bem diversas daquele que teve seu berço na planície e ou junto ao litoral. A diferença entre o carioca e o paulista é frisante. Por causa das praias e clima, do Rio de Janeiro, o carioca, sem dúvida, tem menos ânimo para o trabalho, do que o paulista. Entretanto o paulista, depois de trabalhar incessantemente, durante o dia, quer descansar e divertir-se à noite, daí a vida noturna paulista, ser bem mais intensa que a carioca.
Este exemplo entre o carioca e o paulista, pode ser repetido em outras condições, pelos nascidos nas mais diferentes regiões do Brasil-Continente.
Não vale a pena ficarmos repetindo inúmeros desses exemplos.
Seguindo o pensamento, tínhamos visto que o coletivo do Indivíduo é a Massa. Qual então o coletivo da Pessoa? É o Grupo Social. Esse Grupo Social é mesmo a célula da Nação. Ele apresenta-se com inúmeras facetas: grupo social familiar, grupo social de estudantes, grupo social de trabalho; militar; religioso; artístico; profissional; etc. São inúmeros os tipos de Grupos Sociais, mas, o interessante, é que uma mesma pessoa pode pertencer a todos eles, ou a quase todos, ao mesmo tempo.
O conjunto desses Grupos Sociais constituem a Nação. Porém, estes Grupos Sociais, para constituírem uma determinada Nação, precisam de características semelhantes: a mesma língua, a mesma raça, a mesma religião, os mesmos aspectos psicológicos, as mesmas tradições, costumes e o Patriotismo, amor a Pátria, etc. Evidentemente não é obrigatório que todas essas características apareçam sempre, em cada nacionalidade, mas algumas são imprescindíveis. Ex.: No Brasil fala-se o português, do Amapá ao Arroio Chuí; do Acre ao Rio Grande do Norte, ou seja, de norte a sul, de oeste a leste. Não temos a mesma raça, nem a mesma religião, mas sim a mesma História, as mesmas tradições, características psicológicas e principalmente o patriotismo. Não só no Brasil, alguns elementos diferentes, também ocorrem em outra nações. Só como um exemplo, no Reino da Bélgica, o povo fala duas línguas, o francês e o flamengo e ainda vários dialetos. Portanto nem todas as nações têm estas mesmas características sempre presentes, mas tendo algumas importantes, já podem considerar-se uma nação, principalmente o patriotismo. É por isso que, podemos afirmar, sem medo de errar, que no século XVIII, o Brasil já podia ser considerado uma Nação. Durante as invasões holandesas, no Nordeste brasileiro, quem expulsou os holandeses, não foram portugueses ou espanhóis ( o Brasil esteve sob o poder dos Reis de Espanha, por causa da União Ibérica, de 1580 a 1640) e sim brasileiros: brasileiros brancos, brasileiros índios, brasileiros negros e brasileiros mestiços, todos unidos por uma causa comum, o patriotismo. Não éramos ainda um Estado, no século XVII, mas já éramos uma Nação. Por que não éramos ainda um Estado? Para entendermos esse ponto precisamos abordar os Elementos Básicos da Nacionalidade para, por meio deles, chegarmos ao Estado.
Esses Elementos Básicos da Nacionalidade compõem-se de três: o Elemento chamado Povo; o Elemento chamado Terra, e finalmente o Elemento intitulado de Instituições.
primeiro Elemento, o Povo, é aquele que acima vimos: grupos sociais reunidos, contendo características comuns. Porém, esse Povo precisa residir em algum lugar; e aí temos o segundo elemento, - a Terra, que é o território Geográfico onde vive o povo da Nação. Esse Território não precisa ser determinado ou mensurado, por seu tamanho ou por sua continuidade. Existem Territórios enormes, como Brasil, EE.UU, Rússia, China, existem Territórios Grandes, como Argentina, Alemanha, França, Peru, etc. Existem os pequenos como a Bélgica, a Holanda, Portugal, Costa Rica, Honduras, Nicarágua, Laos, Camboja, etc e existem os minúsculos como Luxemburgo, Andorra, Liechtenstein, Mônaco, Kwait, Emirados Árabes, etc...
Existem também territórios contínuos e descontínuos. O Brasil é um enorme território contínuo, já os EE.UU não são porque vários estados de sua Federação estão separados do todo, ou pelo mar, como Hawaí, ou por terra, como o Alaska (entrecortado pelo Canadá).
O terceiro Elemento, as Instituições, constituem organizações criadas pelo homem, (pelo Ser Humano – Pessoa Nacional), para facilitarem a vida em Sociedade. Então existem Instituições Sociais, Econômicas, Culturais, Pedagógicas, etc. E Políticas. Um exemplo de uma Instituição Política, é um partido político. É também o Municipalismo, é também uma Lei Básica, chamada Constituição, etc... Quando a Nação passa a possuir essas características políticas, ela não é mais, só uma Nação, mas também um Estado. Pode não ser um Estado soberano, mas é um Estado. O Brasil, depois de já ser Nação, e com a organização política determinada por Portugal, era um Estado, mas não um Estado Soberano. Quando a Família Real Portuguesa chega ao brasil, e o Príncipe Regente D. João (a Rainha era sua mãe D. Maria I, mas estava afastada do Trono, por doença mental) eleva, em 1815, o Brasil a Reino, embora ainda unido a Portugal e Algarve, ele passa a ser um Estado Semi-Soberano. Quando finalmente em 1822, o Príncipe Regente D. Pedro( seu pai D. João VI havia voltado para Portugal, deixando-o como Príncipe Regente do Brasil) corta seus laços com Portugal, e proclama a Independência, criando o Império do Brasil; esse finalmente, torna-se um Estado Soberano. Por isso a definição de Estado é Nação politicamente organizada. Tendo chegado à noção de Estado soberano, no assunto Cultura Sócio-Política, devemos completá-lo, com uma noção de Formas de Governo.
Sim, porque não pode existir Estado, sem Governo. E esse apresenta-se em d uas Formas Básicas: ou Monarquia ou República. Essas Formas Básicas se dividem em Sistemas. – Por exemplo, na Forma de Governo, Monarquia, apresentam-se Sistemas diversos como o Absolutista, o Constitucional, o Constitucional – Parlamentarista, e o Parlamentarista não Constitucional, como é o Reino Unido da Grã-Bretanha que é uma Monarquia Parlamentarista, mas não possue uma Constituição. – Na Forma de Governo República, também apresentam-se diversos Sistemas, como o Presidencialista, o Parlamentarista e o Ditatorial.
Forma Monárquica de Governo: a palavra vem do grego Monocracia “ governo de um só; mas é claro que as Monarquias modernas não mais apresentam esse aspecto monocrático. A característica principal das Monarquias modernas, se evidencia em uma profunda união entre o Rei e seu Povo e na função arbitral exercida pelo monarca, acima dos partidos e dos poderes executivo, legislativo e judiciário. – A Monarquia no Sistema Absolutista – centralizava mais o poder nas mãos dos Reis, mas mesmo, assim havia as tradições, a Igreja, as corporações populares e muitas outras entidades que tornavam o Rei, mais Rei e menos tirano (como eram, em geral, os orientais). Na Monarquia Constitucional, o Poder do Rei, como o Poder do Executivo, ou o Legislativo e o Judiciário vem positivados na Constituição. Nesse sistema, em geral, o Rei ocupa o Poder Executivo, embora possa delegá-lo a um Primeiro Ministro.
Na Monarquia Constitucional Parlamentarista, o Rei exerce a Chefia do Estado, enquanto que a Chefia do Governo será exercida por um Primeiro Ministro eleito pelo Parlamento.
Na Monarquia só Parlamentarista, (que o Reino Unido da Grã Bretanha é caso único, no mundo, pelo menos que se saiba) o Rei ou Rainha da Inglaterra é Chefe de Estado e só exerce suas funções em alguma crise nacional, dissolvendo o Parlamento e promovendo, logo, novas eleições. O Parlamento é que elege o Executivo (Primeiro Ministro e demais Ministros). Geralmente a Rainha nomeia como 1º Ministro, o líder do Partido Majoritário no Parlamento.
É evidente que esses Sistemas da Forma de Monarquia de governo, são os mais freqüentes, mas existem muitas outras, por esse mundo afora, que nem bem conhecemos. Só para termos uma idéia, as mais conhecidas monarquias européias, como a Inglaterra, a Espanha, a Bélgica, a Holanda, a Dinamarca, a Suécia, o Luxemburgo, Mônaco e Liechtenstein, são quase todas Parlamentaristas e Constitucionais, mas cada uma delas, apresenta particularidades tão diferentes, que é difícil classificá-las, num todo de Sistema Monárquico. Se sairmos da Europa, então, encontraremos dezenas de tipos diferentes de Monarquias, tanto na África, quanto na Ásia ou Oceania. Ex: alguns países africanos (da África negra) são monarquias, como o Lesoto, o Burundi, etc... Porém, as grandes repúblicas africanas, criadas artificialmente, das antigas colônias inglesas, francesas, portuguesas, espanholas, italianas, e alemães, são organismos políticos, como já dissemos, artificiais, mas que se dividem em tribos inúmeras, que obedecem aos seus chefes tradicionais (os Reis), e que, em geral, não obedecem ao governo central republicano. Conseqüências, as guerras infindáveis, que exigem constantes intervenções da ONU. Assim, só na África encontramos centenas de monarquias, pequenas porém orgânicas, e que são obrigadas a obedecer aos governos fantoches republicanos (geralmente militares) e cada uma com suas características e tradições próprias.
Na Ásia, ou melhor no Mundo Islâmico, (uma vez que começa no norte da África, atinge o Oriente Médio e chega à Ásia propriamente dita) temos geralmente monarquias absolutas como a Arábia Saudita, o Kweit, etc. Há algumas que simulam uma participação democrática, como o Marrocos e a Jordânia, etc. Se entramos na verdadeira Ásia, saindo do Paquistão islâmico, e adentrarmos na Índia, na China, no Laos, no Camboja, na Tailândia, no Japão, na Coréia, etc... Verificaremos países que são monarquias completas (como a Tailândia, o Laos, o Camboja, o Japão, etc) mas, nas outras, acontece o mesmo fenômeno citado na África, repúblicas divididas em inúmeras monarquias. A Índia é uma república unitária, mas seus presidentes e ministros para governarem, precisam estar em constantes conversações com os antigos Rajás e Marajás (que perderam oficialmente seus poderes, mas que continuam super-ricos e com poder moral sobre seus povos). O mesmo acontece na Malásia, na Indonésia, etc... A China é um caso a parte, pois o governo republicano comunista fez uma verdadeira lavagem cerebral no povo chinês, mas mesmo assim, nas ruelas mais imundas e minúsculas que são cruzadas pelas grandes avenidas modernas das grandes cidades da República, nessas ruelas encontram-se príncipes, nobres, sacerdotes e povo da antiga China que guardam, com o risco da própria vida, objetos, relíquias, documentos da China Imperial.Todas essas monarquias, reinantes ou não, possuem as diferentes características que já tínhamos abordado.
Forma Republicana de Governo
Como diz o nome, trata-se do governo da “coisa pública” – “res publica”. Mas é um nome mal dado, uma vez que na monarquia também se trata da “coisa pública”. Tanto que Dante Alighiere escreveu um tratado assim intitulado: “O Governo da República pelo Rei”. A palavra República pode ser examinada por dois aspectos: o antigo e o moderno – O antigo, representado magnificamente pela “República Romana”, representava, de fato, o governo da coisa pública; mas, essa coisa pública era dirigida preferencialmente pela aristocracia. Só, mais tarde, o povo passou a participar ligeiramente, pelo “tribuno da plebe”, e por leis que concediam alguns, direitos aos plebeus. Sabemos entretanto, pela História, que essa república Romana, quase democratizada, acabou ruindo, pelas mãos dos militares, ou da classe aristocrática ou da classe dos cavaleiros (miscigenação entre aristocratas e plebeus, causada, quase sempre pelas guerras), transformando-se no Império Romano, que não era propriamente uma monarquia, mas sim uma ditadura militar e das classes dominantes. Esse Império só se tornou uma monarquia, quando convertido ao cristianismo (século IV d. C) passou a ser bafejado pela doutrina cristã.
O aspecto moderno da República é aquele que nasce a partir da Revolução Francesa de 1789, e que pretendeu tornar-se de fato um governo, “pelo povo, para o povo, com o povo” etc como diz a Constituição norte Americana.
É comum confundir-se República com Democracia. A democracia é, de fato, um Governo exercido pelo povo. Mas a maior parte das monarquias modernas são democráticas, pois se o monarca exerce a Chefia do Estado, a Chefia do governo é escolhida pelo Povo. No entanto há repúblicas (infelizmente a maioria) que não são democráticas. Geralmente transformadas em ditaduras militares, como já houve e há em todos os países da América Latina, e prolifera enormemente na África e na Ásia.
A República deveria ser, pelo espírito que a criou, um espírito igualitário, onde todos tivessem meios de acesso ao governo, onde não houvesse corrupção, onde todos pudessem entender e conhecer a História de seu país e de ciência política.
Os sistemas, da Forma Republicana, que já abordamos, anteriormente, apresentam dois deles, características não democráticas: O Presidencialismo e o Totalitarismo. Esse último não precisa de melhores explicações para se ver seu caráter não democrático. O Presidencialismo, o mais adotado no Continente Americano, é, mais ou menos, uma ditadura com tempo limitado, pois apensar das Constituições Republicanas Presidencialistas declararem que seus três poderes se igualam e comungam harmônicamente das mesmas potencialidades, tal fica só na letra das Constituições, pois na realidade prática, o Executivo comanda e desmanda o Legislativo e o Judiciário, com raríssimas exceções. Já foi dito que Luís XIV, o mais absoluto dos reis de França, teria inveja dos poderes atribuídos ao Presidente dos Estados Unidos.
Sem sobra de dúvidas, o mais democrático dos Sistemas Republicanos, é o Parlamentarista. E por que? Porque é uma imitação do Parlamentarismo Monárquico da Inglaterra, pais onde nasceu a democracia, nos tempos modernos.
O Parlamentarismo tem Chefe de Estado e Chefe de Governo (o Chefe de Estado é uma imitação do Rei parlamentarista), chamado de Presidente; e o Chefe de Governo é o Primeiro Ministro, nomeado pelo Presidente, mas escolhido pelo Parlamento. Tanto o Presidente como o Primeiro Ministro acabam, sendo eleitos pelo Parlamento, e só este é que é eleito pelo Povo. Evidentemente, no Sistema Presidencialista, tanto o Poder Executivo (Presidente) quando o Legislativo (Congresso Nacional) são eleitos diretamente pelo Povo, mas já ficou visto que, pelo menos nas Repúblicas Presidencialistas da América Latina, da África e também da Ásia, essas eleições são corruptas e não tem nada de democráticas, daí várias dessas repúblicas, em sua História, terem se tornado Ditaduras.
Aqui temos, pois, um resumo dos Governos que apresentam-se na direção dos Estados, dentro desse assunto de Cultura Sóciopolítica.
FIM.