sábado, 8 de maio de 2010

Provas de Deus X

Otto de Alencar de Sá-Pereira

Deus também provou-Se a Si próprio e à Sua Mãe. Maria Santíssima foi provada? Sim, quando o Arcanjo Gabriel anunciou a Ela que a Sombra do Altíssimo desceria sobre Seu ventre e Ela conceberia o Filho de Deus! Sua resposta foi o Sim. O Sim que a fez Co-Redentora do Gênero Humano. Ela poderia ter dito o Não? Sim, porque tinha o livre arbítrio. Mas, por outro lado, Ela era Imaculada, Concebida sem o pecado original, a Criatura mais perfeita por Deus Criada. Deus sabia que a resposta seria o Sim, mas a pôs à Prova. “Eis aqui a Escrava do Senhor, Faça-se em Mim segundo a Sua Palavra” foi Sua resposta. Por isso, é Bem aventurada por todas as gerações. E como Deus pôs-se a Si Próprio à Prova? Jesus Cristo era uma só Pessoa, mas composta hipostáticamente pelas natureza Humana e Divina. A Natureza Humana foi posta à Prova. No Horto das Oliveiras, Jesus suou sangue, pois sabia de tudo que iria sofrer, e rogou ao Pai, ou seja à Sua Natureza Divina: “Senhor afasta de Mim esse cálice, mas faça-se a Tua Vontade e não a Minha!”. Ou então, no Calvário, pregado na Cruz: “Pai, oh Pai! Por que Me abandonaste? Era a Natureza Humana, como que abandonada por Sua Natureza Divina? Claro que não! Mas Jesus, pela Sua Natureza Humana, era homem, como qualquer um de nós, menos no pecado. Assim como Maria foi a Mulher mais linda, mais perfeita, mais humilde, mais simples, mais gloriosa, dentre as mulheres, justamente porque ia ser o receptáculo magnífico da Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, mas foi inteiramente Mulher, daí se ter amedrontado em face à mensagem do Arcanjo Gabriel; assim também Seu Filho Jesus, enquanto homem, embora Homem-Deus, mas inteiramente Homem, o mais perfeito, o mais belo de todos os homens, mas Homem, também sentiu dor, e não só a dor física, da flagelação, da coroa de espinhos, da via dolorosa e da crucifixão, mas também a dor moral e espiritual, do Ser Humano, que sabe de tudo o que vai lhe acontecer. Sentiu dor, sentiu mágoa, sentiu pavor, sentiu desgosto. Mas, a tudo agüentou, não com a força de um deus olímpico dos gregos, mas com a força do mais corajoso, mais forte, mais digno, mais humilde, e ao mesmo tempo, mais majestoso de todos os homens. Deus, não permitiria jamais que a Sua Encarnação se fizesse em uma criatura humana decrépita, fraca, destituída das qualidades de um grande homem. Afinal, o que esse Homem precisava sofrer, necessitava que tivesse a capacidade de agüentar esse sofrimento, para que se cumprissem as Profecias e se redimisse a humanidade, pois esse Homem, era ao mesmo tempo, Deus. Era o Homem-Deus (natureza Humana e Divina unidas hipostaticamente), portanto dando valor infinito àquele sofrimento. Porque só assim, com esse valor infinito da expiação, a humanidade, que, pelo pecado havia cometido ofensa contra Deus, portanto pecado infinitamente grande. Ora, pecado infinitamente grande, só pode ser expiado por sofrimento igualmente infinito. Só Deus é infinito, só Deus é Amor Infinito. Só Deus perdoa infinitamente, portanto, só o Homem-Deus poderia apagar os pecados do mundo, o “Agnus Dei”, cordeiro de Deus, que com Sua morte na cruz, pode redimir os pecados dos homens, desde o pecado original, até os pecados que os homens ainda cometerão no futuro!
“Agnus Deus qui tollis pecata Mundi”
“Miserere nobis”

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Provas de Deus IX



Os povos de Israel e Judá foram devolvidos à sua Terra, quando o Rei persa Ciro, o Grande, venceu o Império Babilônico, governado na época por Balthazar, a quem o profeta Daniel, anunciara tal acontecimento, interpretando o significado das letras de fogo que apareceram na parede do “Festim de Balthazar”. As letras formavam as palavras: “Menes, Tessel, Fares”, que Daniel interpretou como a queda do Império Babilônico. Acredita-se que Ciro conhecesse o Deus verdadeiro, o Povo eleito de Deus, a Profecia do Messias, do Redentor dos pecados dos homens. Como Ciro conhecia? Não se sabe. Como também não se sabe de que modo os egípcios, desde tempos remotos, cultuavam a Cruz, embora com formato pouco diferente, pois o braço vertical da cruz, pouco acima do encontro com o braço horizontal, formava uma espécie de laço. Por que? Também se desconhece. Como também se desconhece como, pela Astrologia, os Reis Magos, vindos do Oriente, souberam da época e do lugar certo, da Encarnação do Filho de Deus.
Ciro, Rei dos persas, é só mais um caso, entre inúmeros, que a História nos narra, das profecias sobre a Redenção da Humanidade. O fato concreto, é o retorno dos povos de Israel e Judá para a Terra Prometida, a Canaã. Entretanto, Israel e Judá nunca mais gozaram de uma independência completa, pois, embora tivessem seus Reis, estes deviam submissão aos Reis Persas, descendentes de Ciro.
No século IV AC, Alexandre o Grande, Rei da Macedônia, vence o Império Persa. Viveu pouco, o Grande Alexandre, e por sua morte, o seu imenso império foi dividido entre os seus generais, ficando Israel e Judá sob o poder do Reino da Síria. Finalmente no I século AC, o Império Romano domina todos os povos do Oriente Médio, da Anatólia, da Grécia, do Norte da África e de toda a Europa Ocidental. Israel e Judá estão agora sob o domínio romano. Qual terá sido a razão de tamanha Prova de Deus sobre Israel e Judá? Provavelmente porque não atenderam às admoestações dos Profetas. E principalmente, no caso do domínio romano, não viram o óbvio, ou não quiseram ver, pois conheciam bem as Escrituras e os Profetas. Não viram que o menino nascido em Belém, filho de uma Virgem da Linhagem de David, que só pregava palavras do Bem e de Salvação, que sofreu os opróbrios ditos e descritos pelos Profetas, que morreu na Cruz e que Ressuscitou dos mortos, era o Messias, tão anunciado, o Filho de Deus feito Homem, em união Hipostática com o Pai e o Espírito Santo.
Por que o óbvio, em relação ao Império Romano? Porque o Messias, o Cristo, o Redentor, a Palavra de Deus encarnada, vinha ao Mundo para pregar o Reino de Deus. O Império Romano, dominando o mundo conhecido, foi o instrumento de comunicação para o que o Cristianismo se difundisse, por toda a parte, graças a um Poder Único vindo de Roma e uma língua universal, o Latim, que serviu para espalhar a mensagem de Cristo.


Provas de Deus VIII





Com a morte de Salomão, o Reino de Israel entra em decadência. As causas dessa decadência prendem-se às influências malignas de povos vizinhos. O intercâmbio comercial e cultural, que o grande reinado de Salomão propiciara, foi o inimigo oculto. Influências religiosas de outros povos, que adoravam ídolos, penetraram no Reino de Israel. Como vimos em artigo anterior, até o próprio Rei e Profeta Salomão, teve seus momentos de fraqueza, adorando ídolos (demônios) que eram cultuados por algumas de suas esposas estrangeiras. Elas traziam para Israel os seus deuses, e Salomão e grande parte do povo, passavam a sacrificar a eles e adorá-los, movidos pela concupiscência e pelas orgias, em que se constituíam os cultos a esses deuses. Esses deuses não pediam que os amassem sobre todas as coisas, mas sim que se tornassem seus escravos e companheiros de esbórnias. Não determinavam o amor ao próximo, e sim a paixão sensual e hedonista, que não raras vezes propiciava o homicídio. Não exigiam um culto sério e piedoso, mas sim verdadeiras bacanais, com o culto ao pior deles, o deus Baal, (que acreditava-se fosse o próprio Lucifer), onde quase sempre, no meio da embriaguês e volúpias, processava-se sacrifícios humanos, geralmente de mulheres. Os deuses não ensinavam o amor e respeito aos pais, mas sim, muitas vezes, o estupro de pais com filhas, e de filhos com mães. Não raras vezes verificava-se o amor incestuoso e o adultério; o aborto era comum e o homossexualismo, até entre irmãos ou entre pais e filhos, fato corriqueiro. Sodoma e Gomorra, deixara sua cauda de pecados e venenos sobre esses povos, que influenciaram maleficamente Israel. É um eufemismo dizer-se que esses deuses propiciavam o assassinato, o roubo, o não respeito à propriedade alheia e à mulher do próximo. Diante dessa situação, o Senhor Deus castigou severamente Israel, permitindo a invasão assíria, e a divisão do Reino em dois:
1. O Reino de Israel, capital Samaria, com Reis aventureiros, falsos, ilegítimos não descendentes da Casa de David Reis que aderiram inteiramente à idolatria e que, depois da invasão assíria, sofreram a babilônica e a deportação para as regiões mesopotâmicas do Império Babilônico.
2. O Reino de Judá, capital Jerusalém, com Reis legítimos, pertencentes à Casa de David e que, em sua maioria, guardavam a verdadeira fé. Mas como alguns, também cairam em idolatria, o Senhor Deus também castigou-os. Sofreram a invasão babilônica e também foram deportados para a Babilônia. De alguns desses Reis de Judá, descendem Maria Santíssima e São José. Infelizmente, das doze Tribos, descendentes dos doze filhos de Jacob, dez constituíram o Reino idólatra de Israel, e só duas formaram o Reino de Judá. Nessa época de idolatrias, de divisão do Reino, de invasões estrangeiras e deportações, Deus em Sua Infinita Misericórdia, suscitou os grandes Profetas dos quais os maiores foram Isaías, Jeremias, Elias, Daniel, Amós, Abacuck, Baruck, Eliseu Sofonias, Naum e muitos outros. As grandes Provas de Deus, nessa época de Profetas, eram postas aos Reis de Israel e de Judá e a seus povos. Pois os Profetas, com destemor, increpavam os Reis e o povo contra a adoração aos ídolos. Também enfrentavam, com grande coragem aos Reis conquistadores, fossem assírios ou babilônicos, como aconteceu, por exemplo, entre o Profeta Daniel e o Rei Nabucodunosor.
Esses fatos ocorreram entre os séculos X e VI aC.
O Profeta Elias, talvez o maior deles, com absoluta confiança no Deus verdadeiro, “Aquele que É”, ou o “Eu Sou”, ou “Deus de Israel” (mais tarde, no Cristianismo, “Santíssima Trindade”, ou o “Senhor Jesus Cristo” que sendo a Encarnação do “Filho”, também é do “Pai” e do “Espírito Santo”, pois “Ele” mesmo disse: “Eu e o Pai somos Um”, ou então, mostrando que “Ele” e o “Deus de Israel”, o “Deus de Abrahão”, eram o mesmo, declarou: “Antes de Abrahão, Eu Sou”). O Profeta Elias, com essa enorme confiança semelhante à de “Abrahão”, desafiou os sacerdotes de Baal, à frente do Rei idólatra de Israel. Fê-lo da seguinte maneira: que eles fizessem vir fogo do Céu, para cremar os bois sacrificados no altar. É desnecessário dizer, que os sacerdotes de Baal, nada conseguiram. Ele mandou sacrificar mais bois e molhá-los com água , pois assim poderia dificultar a ação do fogo, e rogou ao Deus verdadeiro que consumisse com o fogo dos Céus, aquelas vítimas expiatórias. E o fogo veio, para medo e pasmo dos Reis, sacerdotes e povo de Israel e estrangeiros, e consumiu, em enorme fogueira e vapor as vítimas e os ídolos de Baal, que caíram de suas bases, e se estraçalharam. A Prova de Deus com Elias foi a Prova da Confiança irrestrita no Poder do Deus de Israel. Os demais Profetas citados também, em ocasiões diversas, enfrentaram Provas de Deus, semelhantes às de Elias. Alguns deixaram suas profecias escritas, onde anunciam, em diversas passagens, a vinda do “Messias”, do “Salvador”, do “Redentor”, passagens estas, que por inúmeras ocasiões, entram em detalhes, às vezes até insignificantes, mas para darem Glória a Deus, pelas Provas que Deus lhes impunha de anunciar, séculos antes, os “Mistérios da Encarnação”, Paixão e Redenção” do “Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo”, que mudaria a Face da Terra.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O pensamento Teológico dos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana

O pensamento Teológico dos Direitos
Fundamentais da Pessoa Humana

Hoje em dia, todas as Instituições Jurídicas e Políticas do Mundo inteiro, salientam sempre os “Direitos Fundamentais da Pessoa Humana”. E os apresentam como fruto das Idéias dos Enciclopedistas, do Iluminismo, da Revolução Francesa, da Revolução Norte-Americana da Independência dos Estados Unidos, que resultaram na Declaração dos Direitos Humanos da República Norte Americana, na Constituição da mesma República, nas Constituições iniciais francesas (a primeira ainda sob a Monarquia de Luís XVI), na Constituição Mexicana, na da República Alemã de Weimar (depois da derrota dos Impérios Centrais, na 1ª Guerra Mundial) e etc... Apresentam, portanto, os Direitos Fundamentais da Pessoa Humana, como coisa nova, inventada pelo espírito liberal do iluminismo e enciclopedismo do século XVIII.
E a Doutrina Judaico-Cristã onde fica, nisso tudo? Que, acentuando os Deveres dos Homem para com Deus, “ipso facto”, defendia os Direitos Humanos, uma vez que, Direitos e Deveres devem ser e são equivalentes.
Só um exemplo. Nos dez Mandamentos da Lei de Deus, dados aos homens, no Sinai, através de Moisés: Quando manda amar a Deus sobre todas as coisas, manda também amar ao próximo como a si mesmo. Se os homens praticarem, de verdade, esse amor ao próximo como a si mesmos, já não estarão praticando os Direitos Fundamentais da Pessoa Humana? Os Direitos Fundamentais nasceram, por necessidade, para enfrentarem a falta destes direitos. O que é a falta deste direitos, se não o desamor? Se todos se amarem como a si próprios, respeitarão os direitos de seu próximo, com lei humana ou sem lei humana. AH! Mas os homens não se amam, como quer o Mandamento de Deus – Se eles não se amam, é a lei humana que vai força-los a se amarem? Claro que não, mas pelo menos vai obriga-los, pela lei e pela força a se respeitarem! – Certo, mas aí então fica a grande questão: Os Estados laicisados, que rejeitaram e rejeitam a Lei de Deus, a Religião e a Igreja, devido à ausência da Força Moral destes Estados, foram forçados a inventar os Direitos Humanos não religiosos, para imporem, pela lei e pela força, o que Jesus Cristo, Sua Igreja e Sua Religião, conseguiam pelo Amor a Deus e ao Próximo. – Mas as sociedades religiosas se tornaram Estados Absolutistas e espezinharam os Direitos Humanos, que tiveram que ser ressuscitados pelos Iluministas, pela Revolução independentista Norte Americana, pela Revolução Francesa, etc...
- Ah! Mas então, antes da Revolução Francesa, esses Direitos existiam, não é verdade? Pois precisaram ser ressuscitados!? Se existiam e estavam enfraquecidos pelos Estados Absolutistas, a solução óbvia era fortalecê-los, dentro dos próprios Estados Religiosos, e não derrubar completamente as antigas estruturas, e inventar novas, sem bases, porque sem religião; que resultaram no morticínio da Revolução Francesa, de Napoleão, em Duas Guerras Mundiais etc. Nos campos de concentração Nazistas e Comunistas, na Bomba Atômica, na decadência moral contemporânea, etc, etc, etc... tudo isto, acompanhando as Leis Fundamentais dos Direitos Humanos. Onde e quando estes Direitos são respeitados? Sem os Deveres Religiosos e a volta a Deus e à Sua Igreja!? Nunca. Teremos mais guerras, guerras da Coréia e do Vietnã, guerras do Irã, do Afeganistão e do Iraque, nos Países Árabes e em Israel. Guerras e mais guerras, morticínios e morticínios. Coletivos e particulares como a pedofilia, com homicídio: o aborto, a eutanásia, e outros horrores da Sociedade Contemporânea que se proclama defensora dos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana! Todas estas lindas Declarações e Constituições dos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana, sem Deus e Sua Igreja se constituem em “Letra Morta”!!!

Quem venceu Napoleão?




Ele mesmo confessou. Já preso em Stª Helena, ilhota britânica, no meio do Atlântico, em seu testamento: “Só três generais me venceram: o inverno da Rússia; a marinha da Inglaterra; e o Príncipe-Regente de Portugal”.
Por que o Príncipe Regente de Portugal? E, por que, também como dizem, um homem acovardado? E por que Príncipe Regente? E não Rei? Vamos responder invertido. Reinava em Portugal, em finais do século XVIII, a Rainha D. Maria I; filha de El Rei D. José I, em tempo de quem, Lisboa foi arrasada, quase inteiramente, por terrível terremoto (Conseguiu ser reconstruída, graças ao grande Ministro do Rei, Sebastião José de Carvalho e Mello, Visconde de Oeiras e Marquês de Pombal; e ao ouro do Brasil). Neta de D. João V, o qual presenteou o Papa com cachos de bananas (O Papa Clemente XII gostava muito desta fruta tropical) e no meio dos enormes cachos, escondido, um outro, em ouro maciço verdadeiro, ouro do Brasil. (Era tanto o ouro que, mais tarde, no Pontificado de Pio VI, Roma, ameaçada por Napoleão, o Pontífice, certo de que o General Corso roubaria o ouro, mandou transformá-lo em Lâminas, e com elas, cobrir todo o teto encolmeiado da Basílica de Santa Maria Maggiore, uma das quatro Basílicas de Roma, a mais importante igreja do mundo, erigida em honra de Nossa Senhora. Hoje em dia, quando brasileiros visitam Stª Maria Maggiore, o guia, sabendo a nacionalidade dos turistas, aponta para o teto e exclama: “Oro del Brasile”!).
D. Maria I, era casada com seu tio D. Pedro (irmão de seu Pai, o Rei D. José I), que com este casamento, tornou-se o Rei-Consorte D. Pedro III. (Em Portugal não se usava título de Príncipe Consorte, como na Inglaterra, para o marido da Rainha reinante, soberana; mas sim o título de Rei-consorte, que usava também a numeração, daí D. Pedro III, (pois Portugal, já tivera, em sua História, dois Reis chamados D. Pedro). (O Brasil, neste assunto, como em tantos outros, imitou Portugal; a Constituição Imperial de 1824, determinava que o Consorte de uma Imperatriz-Soberana, usaria o título de Imperador-Consorte; sendo assim, se D. Isabel, a Redentora, tivesse reinado, de fato, e não só de direito, seu nome teria sido D. Isabel I, e seu marido, o Príncipe Gaston d’Orleans, o Conde d’Eu, o nome de Imperador-Consorte D. Gastão I).
D. Maria I e D. Pedro III tiveram muitos filhos, sendo que os dois homens mais velhos, foram D. José (que se tivesse reinado, teria sido D. José II, mas que morreu de varíola, ainda jovem, pouco antes da invalidez mental, de sua mãe) e D. João. Estes Príncipes e Princesas, eram portanto, netos de D. João V por lado paterno, e bisnetos de D. João V, por lado materno. Este D. João, segundo filho varão de D. Maria I e de D. Pedro III, não era, portanto, destinado a reinar. Havia , antes dele, seu irmão D. José. A coisa mudou com o falecimento prematuro de seu irmão. A Rainha D. Maria I, em um espaço de poucos anos, perdeu o Pai, o Rei D. José I, o filho mais velho D. José, o marido e tio, D. Pedro III; recebeu as notícias fatídicas do guilhotinamento de seus primos Luís XVI e Maria Antonieta, Reis de França, e de inúmeros outros Príncipes de França, também seus primos; se não mencionarmos, as condenação à morte, também pela guilhotina, de grande parte da Nobreza e do alto Clero de França; dos horrores todos da Revolução Francesa, e de Napoleão, “a Revolução de botas”, como ele se auto-denominava, que estava invadindo a Europa toda, depondo de seus tronos, inúmeros soberanos europeus, todos primos ou tios de D. Maria I, e ainda por cima, a ameaça próxima de uma invasão napoleônica, muito perto, de Espanha e Portugal. Os nervos fracos e sua mente conturbada por tais vicissitudes, fizeram da pobre Rainha, uma apavorada. E depois, uma apavorada louca, que corria pelos corredores dos Palácios Reais, gritando, que o demônio a estava seguindo!!! Por isso, o Príncipe D. João, tornou-se Regente de Portugal, em nome de sua Mãe. Eis porque D. João (o futuro D. João VI) não só se tornou o governante de Portugal e também porque foi um Príncipe acovardado amedrontado, que só não ficou louco, como sua mãe, porque ainda era jovem. Mas, que tinha pavor de Napoleão, das idéias liberais, que tinham proporcionado a existência da Revolução Francesa, e do próprio Napoleão; tinha medo de temporais, de siris e caranguejos, como hoje se está noticiando, nas comemorações dos 200 anos da chegada da Família Real de Bragança e de Portugal, ao Brasil. Explicado o porque D. João se tinha tornado o Príncipe Regente de Portugal, e o porque era amedrontado e acovardado, passemos a explicar a primeira pergunta: e por que Napoleão mencionou o acovardado D. João de Bragança e Bragança, como um dos exércitos que o venceram?
D. João podia ser acovardado, devido às circunstâncias históricas, da terrível época em que viveu; mas, era inteligente, esperto e tinha o carisma da realeza, dos mais ilustres sangues da Europa. Era, além de Bragança, por seus antepassados, inúmeras vezes Bourbon, Habsburgo, Saxe, Wittelsbach, etc.etc... A genética é uma ciência que hoje em dia, está avançadíssima e que nos ensina que os gens herdados dos antepassados, se forem gens negativos multiplicam as taras e doenças ou disformidades; mas, se forem gens positivos, também multiplicam-se, mas, gerando mais fortes e boas qualidades. Às vezes, o que é o mais freqüente, geram tanto positivos quanto negativos. Isto acontece, é evidente, com qualquer família. Mas, nas Famílias, Principescas, Reais ou Imperiais, a coincidência de gens da mesma qualidade é freqüente, devido à consangüinidade, maior ou menor, que todas elas têm. E, o que na realidade acontece, é a geração, muito mais freqüente, dos gens positivos. E por que? Porque seus antepassados, na sua grande maioria, foram homens que tinham carismas extraordinários, para reinar, para sujeitar-se à Lei de Deus, para fazer política, para saber amar seus povos, para guerrear, para saber como portar-se, para conhecer as necessidades de seus súditos, etc.etc...
E, a mais verdadeira prova disto, que estamos dizendo, reside na necessidade que sentiu Napoleão, de casar-se com uma Arquiduquesa de Áustria. Ele, o filho da Revolução Francesa, que fizera sua carreira política, extraída das idéias e ações dos propugnadores da Revolução, que negava o poder e os privilégios dos Reis, ele, aquele mesmo que vencera a Europa, pelas armas, impondo princípios liberais às Monarquias Absolutas da Europa, etc.etc... Aquele mesmo, quis criar uma nova dinastia na França. A França já tivera os Merovíngios, os Carolingios, os Capetíngios diretos, os Capetingios-Valois, os Capetíngios-Bourbons, os Capetingios Bourbon-Orleans; e agora, teria a Dinastia Bonaparte. Mas, o que eram os Bonaparte? Quase nada, descendentes da pequena nobreza de Córsega, a única figura de relevo em sua nova Dinastia era ele mesmo: o grande general, o grande político, o vencedor de Reis e Imperadores, o grande Imperador auto-edificado. Mas, mesmo assim, ele precisava pensar em sua descendência. Ele precisava ter um filho, que descendesse de todos os Imperadores e Reis da Europa. O melhor meio de obter isso, seria casando-se com uma filha do Sacro-Imperador-Romano-Germânico, Francisco II, que ele já derrotara, em diversas batalhas. Casando-se com uma Habsburgo-Lorena, ele garantia que sua descendência teria como antepassados, não só os Imperadores Germânicos (de Áustria), mas também os reis e Príncipes da Europa toda, e principalmente, dos Reis de França. O seu filho teria o sangue de Luís XVI, que fora guilhotinado pela Revolução, teria o sangue do Rei sol, Luís XIV, de Henrique IV, de Francisco I, de S. Luís IX (O Rei Santo), de Filipe II Augusto etc.etc... e de Hugo I Capet, que iniciara as dinastias Capetíngias, na França, no século X, as quais, por lado feminino, descendiam também dos Carolíngios, dos séculos VIII e IX, do Grande Carlos Magno, e também dos Merovíngios, e portanto de Clovis, o 1º Rei Franco (século V) bárbaro batizado por S. Remy, que deu motivo para a Igreja, mais tarde, conceder aos Reis de França, o título de Majestades Cristianíssimas! Era isso que Napoleão desejava mais que tudo, a ponto de divorciar-se da Imperatriz Josefina (que ele amava), para casar-se com Maria Luiza de Áustria, (que ele nunca amou e que o desprezava). Portanto, ele acreditava no que a genética hoje nos ensina. Ele não se importaria que seus descendentes tivessem o lábio inferior caído, dos Habsburgo, nem o nariz adunco dos Bourbon, nem a feiura dos Reis de Espanha e Portugal, etc.etc... desde que herdassem a tradição a majestade e as virtudes de todos eles.
A maior prova de que Napoleão respeitava o Príncipe-Regente D. João de Portugal, acabamos de mencionar, falando da genética. Mas houve outra razão, para ele respeitá-lo, a ponto de considerá-lo, um dos três exércitos que o venceram. Esta foi a política esperta de D. João, brincando, diplomaticamente com Napoleão e com a Inglaterra. Como foi isso? Napoleão já vencera quase toda a Europa. Não vencera a Rússia, por causa de seu inverno terrível. Não venceu a Inglaterra, por causa de sua esquadra. A “Britsh Navy” já derrotara as esquadras francesas definitivamente em Abuquir e em Trafalgar. Não havia portanto meios do exército francês chegar à Inglaterra, pois esta é uma ilha. Como então, vencer a Inglaterra? Só se fosse por um bloqueio ao comércio inglês, que reduzisse as indústrias inglesas à falência, e o povo inglês ao pauperismo e à fome. Mas Napoleão não dispunha de navios para realizar esse bloqueio. A não ser que esse bloqueio fosse terrestre. Foi o ele fez. Não dominava quase todos os povos da Europa? (e dominando os povos da Europa, não dominava os povos de quase todos os outros continentes?) Pois bem: decretou o “Bloqueio Continental”. Todos os soberanos europeus estavam proibidos de abrir seus portos a navios ingleses. “Dixit et facit”. O que foi dito, foi feito. A Inglaterra estava impedida de comercializar em quase todo o mundo. Mas havia Portugal. Este, ainda não tinha sido conquistado pelos exércitos de Napoleão. D. João, como já dissemos, brincava, diplomaticamente. Se, por uma lado, prometia a Napoleão fechar todos os portos portugueses à Inglaterra (não eram poucos, pois além de Portugal, havia os do Brasil, de Angola, de Guiné, de Moçambique, de Goa, Damão e Diú na Índia e de Macau na China e o de Timor – na Indonésia), por outro lado tramava com os ingleses, a transferência da Corte Portuguesa e Governo, para o Brasil. Napoleão de início, não acreditou que D. João ousasse enganá-lo, mas depois, ficou pasmo, ao saber que Portugal mudava-se para a América do Sul. Imediatamente mandou o General Junot, que se encontrava na Espanha já conquistada, invadir Portugal. Entretanto, quando as tropas napoleônicas atingiram Lisboa, só avistaram as partes mais altas dos mastros de mais de 40 navios, devido à curvatura da Terra. “Ficaram a ver navios”, foi assim que nasceu esta expressão, agora tão conhecida. Os canhões franceses não puderam atingir os navios portugueses e ingleses, que rumavam direto para o Brasil. Em chegando à Bahia, D. João, lá mesmo em Salvador, decretou “a abertura dos portos” às nações amigas (ou seja à Inglaterra).
Comercializando com o Brasil e demais portos portugueses, a Inglaterra encontrou sustento e meios econômicos para fortalecer seu exército e vencer Napoleão, na península Ibérica e em Waterloo (na Holanda). Eis, aí, porque Napoleão foi obrigado a tirar seu chapéu bicórneo à estratégia de D. João, considerando-o como um dos três exércitos que o venceram.

Igualdade e Igualitarismo



O que se entende por “igualdade”? Não a igualdade pregada pela Revolução Francesa, que é igualitarismo, mas sim a de Nosso Senhor Jesus Cristo, a verdadeira igualdade. Aprendemos, na Doutrina Cristã, que todos somos iguais, diante de Deus. No Céu estaremos todos em pé de igualdade? O Grande S. Francisco de Assis, estará no Céu, na mesma escala de Glória, que um bom frade franciscano, que cumpriu a vontade de Deus, e salvou-se? E portanto está no Céu? Costuma-se falar em 7º Céu, como o Céu mais próximo da Glória de Deus. Mas, se há o 7º Céu, deve haver o 6º, o 5º, o 4º e assim por diante, até o 1º Céu, o mais baixo. Logo, até no Céu não há igualdade? Mas, como podem, todos os que estão no Céu, serem completamente felizes, em Céus hierarquizados? Aqui entra aquela comparação dos copos, desde copinhos pequenos, a copinhos maiores, a copos médios a copos grandes e até enormes. Todos cheios até a borda. Logo, todos repletos, como os homens nos Céus, repletos de felicidade. Todos felizes ao máximo que podem, porém uns com mais capacidade do que outros, de serem felizes. E, enquanto vivos, será verdade que todos são iguais perante Deus? Sim e não. Na essência, o ser humano, vivo e aqui na Terra é igual ao seu semelhante e portanto perante Deus. Todos possuem a inteligência, a racionalidade, a sensibilidade e a vontade. Neste ponto de partida, de fato, todos são iguais: O mais pobre e o mais rico, o mais nobre e o plebeu, o mais forte e o mais fraco, etc... são iguais nesta essência. Entretanto, esta essência é só inicial. Pois na combinação das potências, começam a surgir os virtuosos, e os crápulas; os capazes e os vagabundos; os trabalhadores e os malandros; os que nascendo ricos, ficam pobres por defeitos intrínsecos e os que nascendo pobres, ficam ricos por inteligência e capacidade. Ou ainda os que nascendo ricos, ficam pobres para não perderem a honra; e os que nascendo pobres, ficam ricos na desonra, no roubo, na corrupção, etc... Diante de Deus são iguais? Como o homem honesto pode ser igual ao ladrão, diante de Deus? Ou o assassino e o mártir? Ou o justo e o injusto? Não é mesmo uma falácia querermos igualar a todos, no mesmo patamar? Mesmo diante de Deus? Sabemos que, no berço de palha, ou no berço de ouro, no nascimento, somos todos iguais, como acabamos de ver, pelas potências da alma. Mas, o homem não é só alma, é corpo também. E aí, também, surgem as desigualdades. Uns nascem fortes e sadios, outros fracos e doentes, uns desenvolvem-se e ficam com corpos lindos esculturais (tanto no sexo feminino, como no masculino), outros crescem com problemas de doenças genéticas, endêmicas, etc... e tornam-se feios e até horripilantes. E nas diferenças das almas, igualmente.
Sabemos que Deus ama a todos em Sua Infinita Misericórdia, por Ele todos se salvariam e iriam para o Paraíso! Mas o problema, reside em que Deus, tendo concedido o livre arbítrio ao homem para que o homem O amasse, livremente e sem pressões, permitiu que o homem, às vezes, não O amasse, não quisesse conhecê-Lo, com medo de O amar; decidisse que Ele não existia, para não ter que servi-Lo e amá-Lo; e deste modo, se precipitasse no horror do inferno.
Este é o problema. O homem não querer amar a Deus, por preferir tudo aquilo que não é de Deus: preferir o vício, à virtude, preferir ficar rico desonestamente, do que permanecer pobre, porém honesto; preferir os prazeres passageiros e libidinosos, ao sacrifício e à Felicidade Eterna; preferir o horrendo e o feio, ao Sublime e ao Belo; preferir o erro à verdade, preferir o impuro ao Puro. Preferir que não haja ninguém abaixo dele, desde que não haja ninguém acima dele. De que não haja uma Sociedade Hierarquizada, onde aconteça um escalonamento piramidal de classes sociais, interligadas, como na Idade Média; preferindo que haja uma sociedade massificada, onde todos, aparentemente são iguais, mas que na realidade não são, como nos Estados Comunistas que fracassaram; justamente por causa disso. Queriam igualar o homem, não só em suas contingências (classe, profissão, saúde, raça, ideologias, etc...) mas também em suas essências, ou seja na alma humana. Estes, que assim quiseram e querem, é o que chamamos de igualitários, que não se conformam com as desigualdades harmônicas que a Natureza nos deu (portanto Deus – o autor da Natureza). Que não aceitam a igualdade que Deus nos dá essencialmente (repleta de desigualdades contingenciais) e querem igualar, o inigualável. O primeiro igualitário foi Lucifer que não aceitou estar abaixo de Deus, e ter de se curvar a Cristo Jesus, o Homem-Deus, e pior ainda, a Maria Santíssima, unicamente mulher, não divina, porém o Templo da Humildade e da Pureza, concebida sem o pecado. O contrário do Orgulho e da Impureza de Satanás.
Todos os igualitários, mesmo sem o saberem, são discípulos de Lucifer.
E os igualitários ainda vociferam: “E a igualdade de Direitos?” Deus não permitirá essa igualdade de Direitos? Claro que sim, mas mesmo dentro desta igualdade de Direitos, surgem as desigualdades. Por exemplo: todos têm Direito à Vida. Mas o igualitário é a favor do aborto, da eutanásia, etc... Onde está a igualdade? Todos tem Direito à Educação. Certíssimo. O Estado tem obrigação de permitir que ricos e pobres possam chegar ao Curso Superior. Mas será que todos serão igualmente grandes advogados, grandes médicos, grandes engenheiros, grandes militares, etc....??? Não é possível lutar contra a Natureza, pois lutar contra a Natureza é lutar contra Deus. Já o ditado francês nos ensina: “Chassez le naturel, et il reviendra au galop” (Ao pé da letra: Caçai o que é natural e ele voltará galopando”. Traduzindo em um português mais correto: “Afastai-vos das leis da Natureza e elas se recuperarão rapidamente”. Por que? Porque é impossível vencer ao que é de Deus. Já na Sagrada Escritura, quando S. Miguel Arcanjo, o Príncipe da Milícia Celeste, vence a Lucifer, o anjo de Luz que pelo orgulho, virou Satanás, S. Miguel profere o grito de esplendor:
“Quis, ut Deus?!!!
(Quem, como Deus?!!!)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

PADRE AGUIAR

Otto de Alencar Sá Pereira



Estávamos nós em intervalo de aulas, no edifício da Barão do Amazonas, um dos dois maiores prédios da nossa Universidade Católica de Petrópolis, onde funcionava e funciona a Faculdade de Engenharia, quando ouvimos uma algazarra, acompanhada de risadas, de gritaria e passos de corrida. Subimos rapidamente a escadaria principal para verificarmos o que se passava. Parecia-nos um furacão humano, uma revolução, um circo, enfim algo de estranho e cômico. O que vimos ao atingirmos o 2º andar? Uma rapaziada correndo e esbanjando-se de rir e apanhando bofetadas e batidas, com a pauta de aula, do Padre Aguiar, que fingindo estar brabo e sério, também ria, quando atingia alguma cabeça, em seu furor cômico. Víamos, ao longe, sua batina preta, esvoaçando, cobrindo seu corpo, ainda moço mas já com algum volume de ventre, corpo esse que se movia rapidamente, distribuindo bofetões e pautadas, a torto e à direito, não em crianças malcriadas, mas em marmanjões de mais de 1.80 ou de 1.90m, atletas de 19 a 24 anos, que fugiam do padre e riam ao mesmo tempo. Mas, todo esse espetáculo cômico, que se repetia constantemente não só na BA, mas também no BC (prédio da Benjamin Constant), não era uma represália do padre-professor contra alunos mal criados. Mas sim, fruto de muito amor e carinho que os alunos nutriam por ele e vice-versa. Daí as brincadeiras diríamos, quase violentas. Por que todo esse amor e todo esse carinho? Nós pessoalmente tínhamos por ele grande respeito e amizade. Não havia entre nós essas intimidades que aconteciam com os alunos, porque, naturalmente nunca fomos seu aluno e sim seu colega de magistério. Ele era bem mais velho, mas seu espírito era jovem, estava sempre rindo e brincando, inclusive na sala dos professores, antes ou nos intervalos de aulas. Não que não fosse sério. Nos lembramos dele não só como Professor de CMR (Ciências Morais e religiosas), temido pelos alunos como mestre rigoroso, e apavorante em épocas de provas, mas também como diretor da Faculdade de Direito. Ai de quem colasse em suas provas. Perdia a prova no ato, com nota zero e ainda sofria sérias represálias orais, quando não era expulso de aula. Chamava o colador de pulha, de ladrão, de safado e outros adjetivos; ficava rubro de raiva, quando presenciava um ato de cola ou mesmo o pronunciamento de ligeiras palavras que poderiam ser interpretadas como preparativo para uma cola. Assim, em suas provas, reinava silêncio sepulcral. Se ele desconfiasse de algum aluno, ou aluna, por causa de um olhar ou gesto suspeito, durante a prova, movia-se do seu lugar para o lado do aluno, com a velocidade de um raio e já armado de alguma régua ou pauta enrolada, para castigar o faltoso, no ato, caso se verificasse o delito. Se não, era capaz até de dar uma gargalhada e dizer: “Assustou-se? Isso é para você ver o que pode acontecer se não agir corretamente”. Aquele aluno ou aluna que, de fato fosse apanhado colando, ficava na berlinda; não merecia mais suas brincadeiras e bofetadas amorosas. Mas, por pouco tempo. Não guardava rancor, logo, seu enorme coração perdoava o faltoso e como sinal do perdão, levava um cascudo, acompanhado de xingamentos humorísticos e risadas. As moças, entretanto, eram respeitadas. Brincava com elas também, ou brigava em caso de cola, mas não as tocava. Sempre dizia: “as moças só podem ser tocadas com flores”. O amor originava-se, dele incarnar o verdadeiro Pai.
Nos lembramos principalmente dele como sacerdote. Quantas vezes recebemos a Sagrada Comunhão de suas mãos consagradas! Quantas vezes conversamos com ele sobre assuntos de Doutrina Católica. Quantas vezes ele nos indagava sobre assuntos históricos e monárquicos, durante longas horas!
Nós o respeitávamos como verdadeiro Padre. Nunca o vimos sem batina. – “Como posso ser conhecido como Padre, se andar sem batina?” – “Certa vez, na rodoviária, um rapaz desesperado pediu-me que o ouvisse em confissão. Sentei-me num banco, ele ajoelhou-se no chão, e confessou-se. O assunto era sério, mas ele saiu calmo, depois da confissão. Se eu estivesse sem batina, quem sabe, alguém viesse a perder a vida, ou ele mesmo!?
Suas palavras, quando não estava brincando eram sempre apostólicas. Em qualquer tempo ou lugar ele pregava a Palavra de Deus. Devotíssimo de Nossa Senhora, isto era também fator de nossa união. Nós também brincávamos eventualmente com ele. Um grande professor de Direito, que infelizmente a Universidade dispensou, também gostava de conversar com Padre Aguiar, e dava-lhe carona para o Seminário quase toda noite, mas se declarava ateu.
E nós, brincando com o velho sacerdote, costumávamos dizer-lhe: “Com este, o senhor perdeu!” Mas acreditamos que, agora, no Céu, ele consiga mais facilmente a conversão deste aludido professor, que foi muito seu amigo e que também prezamos bastante, e que foi grande perda para a UCP, sua saída. Tínhamos um outro grande professor, que era judeu, Certa vez, ao entrarmos no atendimento de professores o encontramos conversando com o Pe. Aguiar. Brincando, abraçamos aos dois e dissemos: “Que interessante! O Velho Testamento confabulando com o Novo Testamento!
O professor judeu, pareceu-nos não ter gostado muito da brincadeira, mas Pe. Aguiar deu risada.
Todos seus antigos alunos e colegas de magistério ainda hoje, lamentam seu falecimento, e principalmente a terrível agressão física que trouxe o início de seu fim.
Entrentanto o que mais nos chocou, mais ainda do que a agressão física que sofreu, foi uma fotografia que nos mostraram, certa vez, no atendimento aos professores. Quando ele foi agredido esteve internado na casa da Providência aqui mesmo em Petrópolis. Fomos visitá-lo e dissemos que queríamos vê-lo de volta, restabelecido, dando suas aulas e celebrando suas Santas Missas na UCP. Acreditamos que não nos reconheceu, pois com um olhar vidrado só nos disse, repetidamente “UCP, UCP, UCP”. Quando melhorou do choque físico, foi levado para o Colégio dos Vicentinos (ele era vicentino), no Cosme Velho, no Rio de Janeiro. Foi de lá que enviaram esta fotografia. Vimos então que além do choque físico, ele sofrera um muito pior: mental, psíquico, não sabemos. Na foto, o Pe. Aguiar que conhecíamos, não era mais ele, pois, com um sorriso meio estranho e cercado de outros vicentinos vestia calça “blue jeans” e camiseta. Mais tarde veio a falecer, mas, para nós, sua morte acontecera antes, por ocasião das circunstâncias que ocasionaram esta fotografia.